Mais uma crítica para a colecção, desta vez do primeiro anime a fazer-me desviar o olhar do ecrã. Gantz... só o nome soa a alguma coisa estranha não? É verdade, este é dos animes mais estranhos que já tive oportunidade de ver.
A série começa com o protagonista e adolescente Kei Kurono, numa aula aparentemente aborrecida e normal. Até ele começar a imaginar as miúdas da sua turma todas nuas, incluindo a própria professora. Como é natural nos rapazes com as hormonas aos pulos, fica com uma erecção a meio da aula, o que lhe vale um grande embaraço em frente da turma. Acho que só por isto somos logo apresentados a um anime que não segue os padrões normais. Depois seguimos Kurono até à estação de metro onde passados uns momentos, um mendigo bêbedo cai nos trilhos. O que fazer numa situação dessas? A maioria das pessoas fica apenas a olhar, muitas delas com desprezo, outras com repugnância para a figura do mendigo entendida nos carris. Ninguém parecia disposto a ajudar o homem, até que um jovem, Masaru Kato decide fazer alguma coisa. Kato era amigo de infância de Kurono, e apesar de não o ver há bastante tempo, reconhece-o na estação e pede-lhe ajuda para levantar o mendigo e tirá-lo dos carris. Kurono ajuda-o com relutância (preferia ter ficado apenas a olhar, já que o assunto não lhe dizia respeito). Ambos conseguem salvar o mendigo, mas não conseguem fugir a tempo do comboio que se aproximava. Morrem os dois, os seus corpos completamente despedaçados. Fim da história? Não, a morte é apenas o princípio...
Os dois jovens, no instante da sua morte, são transportados para uma sala com uma grande esfera negra lá no meio - Gantz. Após alguns momentos, outras pessoas são transportadas para a sala, também elas recém-mortas, incluindo a terceira personagem principal, Kei Kishimoto, a menina kawaii e de formas avantajadas por quem Kurono acaba por se apaixonar. Depois de todas as pessoas acabadas de morrer estarem presentes, Gantz emite uma música alegre mas que no contexto até parece arrepiante e transmite-lhes uma mensagem - devem matar um alien, com as seguintes características, num certo período de tempo! Equipados com armas e fatos duma tecnologia superior, os personagens têm que sobreviver numa Tóquio paralela à verdadeira cidade, onde os aliens estão à solta. Quando a missão é cumprida, os sobreviventes são transportados novamente para a sala e Gantz atribui-lhes pontuações pelo seu desempenho. Se alguém conseguir atingir 100 pontos, ser-lhe-á devolvida a sua vida normal.
Até aqui, parece que o anime seguiria uma trajectória linear, em cada episódio um monstro e no final seriam todos ressuscitados e viveriam felizes para sempre. Errado! Aqui as personagens morrem de maneira pouco digna. Aqui não há finais felizes. Cada pessoa tem os seus problemas. Kato perdeu os pais e tem que criar o seu irmão mais novo em casa da tia, uma mulher que faria a Cruela Devil parecer simpática. Por outro lado, Kishimoto é uma suicida. Não aguentou a pressão que sofria em casa, o desprezo que a mãe lhe dava por não conseguir tirar as mesmas notas que a irmã. No meio disto tudo, Kurono até parece demasiado fútil com as suas preocupações sobre sexo e raparigas.
Esta série foi duramente censurada devido à violência explícita com que somos surpreendidos. Sangue, mortes, nudez, sexo, cérebros, tripas e carga emocional forte são apenas os pontos que me lembro agora de referir. As surpresas são constantes, cada personagem tem vida própria. Os vinte e seis episódios tornam-se viciantes a tal ponto que não conseguem largar o anime. Nem que seja pela curiosidade de saber quem vai morrer a seguir...
As músicas são outro ponto forte da série. Tem uma opening ritmada e original dos Rip Slyme e uma ending calminha cantada pela Bonnie Pink que são logo chamativas pela sua criatividade. As músicas de fundo também são excelentes e contribuem em muito para aumentar o suspense em várias cenas. É como estar a ver um thriller num quarto escuro!
A animação dos estúdios Gonzo é perfeita. Não vão encontrar pessoas bonitas neste anime. Incrivelmente, até são bastante realistas, apesar das meninas serem sempre avantajadas (mas lembrem-se que estamos a vê-las sob o olhar do Kurono-kun, o grande depravado).
Ora, então onde estão os defeitos deste anime? Até agora parece uma perfeição, a nível sonoro, estético e de história. O único defeito na minha opinião são as pontas soltas que foram deixadas. O final é demasiado abrupto. Nunca li o manga, por isso não posso comparar e dizer qual é melhor. Mas quase de certeza que no manga devem responder a várias perguntas, tais como:
- O que é o Gantz?
- De onde vieram aqueles aliens?
- O mundo depois da morte é real? Ou não passa tudo dum sonho? Ou é apenas um programa de televisão com um sentido de humor macabro?
Para concluir, esta série marca pela grande frieza com que trata todos os assuntos referentes à humanidade. Foi com grande choque que me apercebi que quem vê a série começa a sentir desprezo pela raça humana, por toda a violência física e psicológica que infligimos aos outros, por todo o desprezo e falta de caridade, pelas guerras, pela inveja, pela corrupção, etc... Uma crítica à nossa sociedade, que dá que pensar. Não é aconselhado a toda a gente, mas recomendo a quem tiver coragem de olhar para os graves defeitos que muitos de nós temos.
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